agosto 31, 2012

Poça d'agua

Quarta-feira, hora melancólica das cinco e meia quando chove. Choveu úmido e frio na tarde antes sufocante de novembro. Ela caminhava na direção do metrô, os sapatos molhados. (...) Sua respiração estava ofegante, seus sentidos traiam-na e seu pensamento estava completamente absorto, destacando apenas uma frase: − Preciso voltar para casa.

Entrou no trem.
E mesmo que estivesse há poucos quilômetros de casa, não poderia deixar de sentir uma enorme culpa em seu peito. Imagens apareciam vez ou outra em sua mente e tentava lembrar do que a levou fugir de casa, mas nada conseguiu. Como se uma página tivesse sido bruscamente rasgada de um de seus livros.
O trem parou por volta das sete e quinze. A rodoviária continuava lotada, apenas podia-se ouvir o farfalhar da garoa fina que agora caia sobre seus ombros. Seguiu por mais algumas ruas, pisando em poças, tropeçando em pedras; ela nunca fora um exemplo de elegância e tampouco se importava com o que pensavam sobre ela.
Ao chegar em casa, notou um completo silêncio como se ninguém estivesse esperando a sua chegada. Subindo as escadas, uma sensação de déja-vu a tomou, sentiu-se incomodada mas continuou a subir. Ao abrir a porta, ouviu seus passos ressoando sobre o piso de madeira, olhou ao redor e percebeu que tudo estava normal a não ser por um pequeno fragmento de papel amassado perto da janela.

"Querida mãe, querido pai, não sei a que ponto cheguei mas estava precisando de um tempo só para mim. Há dias sentia-me vazia, vocês sempre foram absolutamente maravilhosos comigo, na verdade, o problema não são vocês, e sim, eu. Espero que um dia possam me perdoar pelo que estou prestes a fazer. Com amor, B."

Ao ler o bilhete, notou luzes vermelhas e ao lançar os seus olhos sobre o parapeito da janela viu seu corpo estirado no jardim enquanto pessoas que estavam ao redor tentavam reanimá-la. Assim, fechou completamente os olhos e suspirou longamente, pelo que seria, o seu último suspiro.

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